maio 02, 2004

Mercadoria

Tudo começou na quarta-feira em meio a um laboratório de química (sempre ela). Manipulando substâncias bem perigosas pra fazer coisas bastante simples, eu e meu grupo queriamos saber qual a utilidade daquilo, aquecer sais diversos pra produzir chamas coloridas. Foi então que o afamado assistente de laboratório, Joselito (sim, este é o nome dele), veio esclarecer nossas curiosidades: além de produzir as cores no fogos de artifícos, o mesmo príncipio que permtia aquelas corzinhas bonitinhas tinha uma aplicação médica, nobre no mínimo, cura do câncer.

Não é exagero, nem sensacionalismo. Com um processo relativamente simples e indolor (posso explicar a quem interessar), pode se eliminar um tumor maligno em muito pouco tempo, com o único inconveniente de ter de ficar uma semana em abrigo total da luz. Todos irão concordar que é um preço pequeno comparado com os efeitos colaterais de uma químio ou rádio-terapia. E ainda por cima apresenta uma vantagem assustadora, só é necessária uma aplicação para todas as células cancerígenas.

O processo já existe há vários anos na América do Norte e na Europa, mas ele, o Joselito, em sua tese de mestrado é o primeiro a tratar do assunto no Brasil. E já entristece a perspectiva de que necessitando um grande investimento, só quem pode viabilizar o tratamento aqui são os grandes laboratórios farmacêuticos, os mesmo que produzem as drogas usadas nos tratamentos de químio. Que individualmente são mais baratas, mas são necessárias em quantidades muito maiores. Conclusão as chances desse tratamento realmente existir tendem a zero, porque os gigantes laboratórios não vão abrir mão dos carrísimos tratamentos tradicionais em prol de um esquema que elimina o problema rapidamente junto com uma fonte substâncial de sua renda.

O que mais me intristece é que muitos desses laboratórios já compraram patentes dos compostos que podem ser usados nesse tratamento, com o único objetivo que não sejam usados. Olha, não quero ficar criticando "os modos perversos do capitalismo", eu sei que isso não leva a nada e que é uma grande bobagem, mas o que temos aqui é uma situação extrema, desumana. No meu ver isso vai além de uma discussão de modelos econômicos, é uma questão de ética, moral até.

Não acho que estamos, enquanto humanidade, perdidos. Mas no momento que sofrimento vira mercadoria, algo está muito errado.

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