outubro 08, 2008

Sobre-
já não era suficiente?

Fui no velório. Não queria, mas me pediram e não me senti muito em posição de negar. Estava de terno, quis jogar ele fora quando acabou. Confesso que não estava bem, mas tinha gente pior. Bem pior. Consegui manter a serenidade externa apesar de todo desconforto do preparo de inconformação, raiva, tristeza e cansaço que percorria minha entranhas. Desconforto esse que piorou muito quando foi à frente um maldito padre careca, e começou a falar sobre a bondade de seu Deus. E lhes direi, cheguei muito perto de agredir aquele homem de saia.

Vamos deixar uma coisa muito clara. Se você insiste em acreditar num deus antropomórfico onisciente, onipresente e onipotente não farei objeções se você disser que ele é também infinitamente bom. As características anteriores são suficentemente contraditórias para a bondade, ainda que infinita, ser completamente irrelevante. Mas você falar sobre isso, no velório de uma família brutalmente assassinada no dia do aniversário do seu filho em tom de convertam-se ou isso acontecerá com vocês também.... bom acho que vocês entendem onde eu quero chegar.

Saí de lá quando acabou, um pouco antes das 12h. Devia ter ido trabalhar. Não consegui. Tentei segurar o choro, mas quando fiquei sozinho as lágrimas simplesmente não paravam de descer. Não sei o que me passou na cabeça, mas fui pro shopping, com o pretexto de comer, e pensando que a companhia de estranho me secasse os olhos.

De fato secou, mas a angustia não parava de crescer. Sentar pra comer aquele pão com carne que tentei chamar de almoço foi um inferno. Comi menos da metade dele conforme andava infinitamente por aquele circo comercial.

Conforme passavam as lojas, as propagandas, os produtos via como somos estúpidos. Conforme passavam as pessoas sentia o desespero potencial de cada uma, a maldade potencial.... Só vi sinceridade em um senhor que havia sofrido um derrame e pedia (se esforçando) com o que lhe restava da fala uma coroa do burguer king.

Andei e andei. Até que as pernas começaram a doer, e não parecia mais que estava andando, mas flutando sobre os membros inferiores. Quando já estavam passadas mais de quatros horas, me dei conta que não tinha comido metade do dito almoço. Senti enjoo, quis vomitar.

Tentei consumir pra ver se afastava a dor. Comprei um fone de ouvido que estava precisando a algum tempo. Porvavelmente vou achar uma boa compra no futuro, mas não melhori em nada a agonia.

Vim pra casa, e no caminho meus olhos se encheram de novo.

E isso mais do que me bastaria pra descrever um dia ruim. Mas ainda tenho que me deparar com um comentário do cara que ameaçou de morte em maio, sugerindo que eu fui trocado pelo Kurt Cobain (o mentecapto provavelmente nem sabe quem é).

Sei lá, que fase... tenho receios de sair pra ir pra aula, mas vou tentar

2 comentários:

dane disse...

esse texto ficou perfeito

Anônimo disse...

esgotou qualquer gancho passível de comentários, que texto fuderoso.

é assombrosa a motivação que a dor e o negativismo podem dar. ainda assim, acho que você já teve sua cota deles pra esse ano, vou REZAR pro nosso querido DEUS ANTROPOMORFO te ABENÇOE. [/ironia]